segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Cartomancia é "dom"

                    Embora eu acredite que exista um "dom" para cartomancia - exatamente como um "dom" para o desenho, um "dom" para a costura ou para a medicina... Nem tudo é "dom". Especificamente na cartomancia as pessoas esperam algo meio "mágico" das cartas, como se elas, as cartas, tivessem algum poder, como se fossem "seres" e não "coisas". 
                    
                    As cartas são uma ferramenta. Uma ferramenta como o bisturi do cirurgião ou a máquina de costura da costureira, ou melhor ainda, como o lápis do desenhista. O lápis não é mágico - não existe isso de você ir a uma loja, comprar um lápis, chegar em casa, olhar pra ele, ele olhar pra você e você simplesmente começar a desenhar magnificamente. Sim, eu sei que existem desenhistas que nunca fizeram sequer uma aula, assim como musicistas que jamais olharam para uma partitura e são grandes artistas - mas esta não é a regra: é a EXCEÇÃO. A regra é que mesmo o sujeito que tem uma tremenda voz, vai fazer aula de canto pra se aprimorar e desenvolver habilidades, o cara que sempre desenhou bem, se quiser viver de ilustração / pintura / design e afins, vai fazer cursos, faculdade, estágios e mais estágios, horas e mais horas e mais horas de muito treino... 
                   O Neymar tem um "dom" para o futebol, verdade... Mas olha lá, com que idade ele começou? Quantas horas por dia de treino? Ele pode simplesmente não ir treinar? Não, não pode. Se você visitar o atelier de algum grande artista, chances são de você encontrá-lo pintando e não assistindo a novela... E se o cara for um musicista e você passar uma semana com ele vai perceber que ele amanhece cantarolando alguma melodia, e que o ouvido está sempre MUITO atento, chega a ser uma coisa meio chata - duas notas e ele sabe qual é a música. Isso pode até ser dom, e de repente ele pode até achar que teve uma "intuição" - eu ainda acho que é a prática. 
                   Anos e anos trabalhando com design para publicidade e ao montar a identidade visual de uma campanha você escolhe uma paleta de cores... sabe, escolhe "intuitivamente" - e aí vem o diretor de criação e comenta com o atendimento: essas duas cores de fundo provocam fome e as cores da paleta central deixam a pessoa ansiosa - a fonte que ela usou tem traços fluídos e um movimento que provocam uma tomada rápida de atitude... Vai bombar! O cliente vai vender muito sanduíche. Foi mesmo intuição, ou isso tem a ver com as horas e horas e horas que você passou estudando semiótica, teoria das cores, psicologia da comunicação, e até cromoterapia, neuropsicologia e sabe-se lá mais o que... 
                  Quando alguém dirige um carro há algum tempo, não pensa a cada vez que vai trocar de marcha sobre a rotação do motor, e sobre pisar a embreagem, levar o câmbio acima e à direita, tirar o pé da embreagem enquanto acelera, baixar a mão sobre o comando da seta, girar o volante à direita... São movimentos "intuitivos": é quase como se o carro fosse uma extensão sua... 

                   Ler as cartas é bem assim. Depois de um tempo você vai precisar pensar um pouco se tiver que responder porque disse que há alguém colaborando com o projeto do consulente... E não vai lembrar que foi aquele vídeo em que aprendeu que a criança perto é igual à receber ajuda, e que a carta influenciada pelo chicote e descrita pela Lua, descrevendo as estrelas é um novo projeto... Simplesmente vai entender aquilo. 

                   Por outro lado, cada vez mais tenho certeza de que para ser um bom cartomante, o sujeito não precisa apenas de formação em cartomancia (leia-se fazer um bom curso [leia-se pelo menos umas 200 horas de estudo ou cerca de três anos de prática], praticar muito, ler muito, praticar mais e mais ainda). É preciso muito mais. um bom cartomante precisa estar atento ao mundo ao seu redor, estudar história, filosofia, psicologia (o basiquinho pelo menos), conhecer terapias holísticas - no mínimo o suficiente para encaminhar alguns casos, e aí também me faz lembrar que algumas vezes precisamos encaminhar também ao psicólogo ou psiquiatra...  E isso é o mínimo. 

                    Então... Bola pra frente: estudar, estudar, estudar, praticar, praticar, praticar, repetir e repetir. Nós, cartomantes, somos um pessoal que, quando bem orientados, sabemos que o destino não está escrito em lugar algum além do livro que guardamos junto com nossas canetas - somos nós mesmos que escrevemos nossa história... Algumas vezes, quem sabe... A gente escreveu faz um tempinho que devia escolher esse ou aquele caminho... Como uma nota mental... Mas a gente só escolhe os caminhos pelos quais sabe que pode passar, então... 99% transpiração, 1% inspiração, como é de praxe!



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