Ao pensar ainda sobre o início de um blog a respeito de cartomancia - em especial o Petit Lenormand, há algo que não me sai da cabeça: a conexão entre cartomancia e espiritualidade, principalmente onde vivemos, no Brasil.
Você já percebeu como esses dois temas, por aqui, parecem estar sempre interligados? Tanto, que o Petit Lenormand acabou "virando" o "Baralho Cigano", e a maioria das pessoas com quem converso, e pouco conhecem sobre o tema, acreditam que para ler a sorte com o Petit Lenormand é necessário passar por algum tipo de iniciação "espiritual", fazer parte de um culto (geralmente afro-brasileiro), e "trabalhar" com uma Cigana espiritual.
Estes conceitos estão tão intimamente ligados à cartomancia brasileira, que é bem comum, ao sentar diante de mim, o consulente me pergunte quem é a "minha" Cigana. Por algum tempo esta pergunta me incomodava muito, confesso. Não que eu não reconheça a presença da Egrégora Cigana, ou que menospreze de qualquer maneira os guias espirituais e seu trabalho. Pelo contrário, como espiritualista universalista, aceito, admiro, aprecio muitas práticas religiosas, de todo tipo. O que realmente incomoda é a maneira como isso é contextualizado, e a maneira como o termo "cartomante" acaba sendo diminuído, até tornar-se pejorativo, em função de práticas pouco éticas ou louváveis de alguns, sob a bandeira do "espiritualismo".
É preciso separar os grãos. Em princípio, o Petit Lenormand, que nasceu dentro de uma cultura predominantemente católica, e em um período da história em que era comum a existência de sociedades secretas de estudiosos e praticantes de Magia, não tem nenhum vínculo com nenhum culto ou filosofia religiosa, de nenhum tipo. Não está ligado ao ocultismo, esoterismo, nem tampouco aos cultos afro-brasileiros.
Você pode decidir ser um cartomante - e educar-se para ser um dos bons, sem que nem ao menos acredite em Deus, na Divindade, seja ela de qualquer tipo, ou na presença de espíritos. E as cartas vão mostrar a sorte dos seus consulentes com a mesma eficiência.
Perceba que todas as correntes filosóficas espiritualistas, dos mais diferentes pontos do planeta, de diferentes períodos de tempo e em linguagens muitas vezes também distintas, trazem em suas doutrinas ou escrituras o princípio da evolução espiritual associado a algum tipo de estudo e, principalmente, baseados em princípios éticos extremamente definidos. Essas mesmas diferentes correntes, explicam também que, em princípio, atraímos a quem nos afinizamos, ou seja, nos aproximamos e nos ligamos a seres com traços similares aos nossos em padrões vibratórios - e padrões vibratórios podem ser definidos como ondas energéticas geradas por emoções que foram geradas por pensamentos. Desta forma, podemos entender que os guias, mentores, divindades, espíritos de Luz, anjos ou seja qual for o nome que você dê aos seres que auxiliariam no processo de leitura das cartas, vibram em alguma frequência com que precisamos nos afinizar. E se o que nos afiniza com uma ou outra pessoa (encarnada) ou ser (espiritual) é nosso padrão vibratório, este é definido por nossa conduta, ou seja, nosso padrão de comportamento. E a partir desta linha de raciocínio, surge a reflexão: Com o que estamos nos afinizando, em que tipo de frequencia energética temos nos sintonizado?
Se por um lado, alguém lhe diz que seus guias e mentores (espirituais) o ajudarão no processo de aprendizgem e leitura das cartas, por outro lado, com que tipo de energia você vem se alinhando? Quando falamos em padrões de comportamento que definem frequências, podemos compreender que sentimentos / emoções menores, como ciúmes, possessividade, inveja, mesquinharia, ira, raiva, medo, insegurança e tantos outros, irão nos sintonizar em uma frequencia por onde vibram energias do mesmo padrão. Da música com letra grosseira, ao copo de cerveja "a mais" na festinha do final de semana, do palavrão que foi solto no trânsito caótico à crise de ciúmes que o "amor" causa, tudo é energia em movimento, e tudo nos sintoniza em alguma frequencia. Nos aprontarmos para "canalizar" mensagens de espíritos de Luz, requer, supõe-se, uma afinização energética com a frequencia destes seres... no mínimo!
E ainda por outro ponto de vista, podemos refletir a respeito do conhecimento necessário pra interpretar corretamente as mensagens trazidas do extrafísico: mesmo que em uma semana estressante e caótica, como muitos passamos, consigamos o devido equilíbrio e nos mantenhamos em total sintonia com a Luz, como se dá a "recepção" das mensagens canalizadas pelos guias? Neste ponto eu me lembro de outro conceito muito interessante, que diz que apenas vemos/ouvimos/sentimos o que conhecemos: não compreendemos o novo se não houverem referências mínimas em nosso arquivo mental, e partindo daí, se o cartomante confia apenas no conhecimento de seus guias e mentores no momento de leitura das cartas, e assumindo que este esteja em total sintonia com a Luz de quem só quer auxiliar e orientar o consulente, que tipo de referências criamos para o devido cumprimento desta tarefa?
Compreender que o seu universo religioso é completamente diferente do meu, e que o consulente talvez viva em um terceiro universo, é fundamental na hora de esclarecermos que uma coisa não deve se confundir com a outra: cartomancia não é religião, não está conectada a nenhuma religião, nem depende de nenhuma doutrina religiosa pra que seja praticada.
E quando finalmente separamos uma coisa da outra - isso não quer dizer que você não possa seguir trabalhando com o seu guia - pelo contrário, espero que você estude ainda mais, pra que ele/ela tenha ainda mais recursos na hora de lhe transmitir o recado... mas é somente quando separamos uma coisa da outra, que podemos nos apresentar como Profissionais. Profissionais de valor, que merecem respeito e reconhecimento, e que não só precisam dar duro como todo mundo, como pagam contas como todo mundo.
Pensar em tudo isso me inspira, e ao mesmo tempo preocupa: você já parou pra pensar em por quê a imagem do cartomante é ainda tão diminuída, menosprezada e até marginalizada, aqui no Brasil? Todo mundo sabe contar uma história de algum cartomante "salafrário"... e assumir a intenção de viver de cartomancia, em algumas famílias, é quase sinônimo de tragédia!
É claro que sempre existirão os charlatães. Mas não é porque existem por aí médicos que praticam a medicina ilegal, que você deixa de ir ao médico, ou deixa de respeitar os médicos que conhece.
Como profissional, você pode acreditar no que quiser... Mas deve oferecer, antes de tudo, excelência ao seu consulente. Dê o seu melhor! Juntos, podemos mudar esse cenário!
Belíssimo !
ResponderExcluirObrigada!
ExcluirPerfeito!
ResponderExcluirAdorei sua explicação sobre o baralho cigano. Achei muito importante sua visão a respeito da espiritualidade. Confesso que pouco tempo fiquei sabendo sobre a origem do baralho, o que posso falar sobre isso é que o povo cigano possui uma cultura ágrafo, não foi escrita, tudo era passado verbalmente. Resumidamente quero lhe dizer que seu trabalho é muito bonito e próspero ! Muita sorte para você.
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